Química das Cores: Estudantes de escola sergipana utilizam corantes naturais no tingimento de tecidos

Sergipe

07.08.2019

Por Ítalo Marcos

A rotina dos 25 estudantes da eletiva Química das Cores, do Colégio Estadual Leandro Maciel, localizado em Rosário do Catete, região do Agreste sergipano, já não é a mesma depois que aprenderam a parte teórica do processo cientifico que envolve a criação de corantes por meio de compostos naturais, como frutas e legumes. Empolgados com os resultados, os alunos começaram a ver a ciência de outra forma e já almejam sonhos mais altos.

É o caso do estudante, Fabricio Melo Ramos, que pensa em continuar fazendo ciência e ampliar seu conhecimento acerca do assunto. Ele afirma que a eletiva o ajudou a encarar as dificuldades também na esfera social. “A gente consegue tirar uma experiência muito positiva desse projeto e para mim se trata de uma terapia. Tingindo camisas, extraindo cores naturais e aprendendo sobre a química foi o que me motivou a aprender mais e ajudar aos meus amigos”, destaca o estudante, um dos mais atuantes no projeto e que manuseia com muita facilidade as composições químicas.

Feliz com os resultados científicos e pessoais de cada estudante, a professora de Química, Valéria Santana, explica que o objetivo da eletiva é influenciar a pesquisa científica, no ambiente escolar. “A gente consegue identificar algo que transcende tudo que trabalhamos em sala de aula e é isso que nos motiva. Temos dois encontros por semana e cada aula dura aproximadamente 50 minutos, mas o interesse deles é tão significativo que sempre ficam a mais do que o tempo previsto. E, nessa perspectiva, vamos introduzindo esse conhecimento mais ampliado, trazendo a rotina e os conceitos da pesquisa para os alunos”, explana.

Tássia Kailany dos Santos, aluna do 2º ano, explica que aprendeu muito com as experiências químicas. “Comecei a fazer parte desta eletiva já na segunda fase, mas foi algo que me chamou muita atenção quando fui percebendo os resultados. Além do trabalho de pigmentação nas peças, a gente também pode confeccionar papel através de material reciclado e, consequentemente, utilizar nas nossas atividades da escola; é muito legal”, disse a estudante.

Começo de tudo

Em 2018, a eletiva Química das Cores foi introduzida à grade curricular dos estudantes do Centro de Excelência Leandro Maciel, unidade de que oferta a modalidade de ensino médio em tempo integral e que, desde então, vem trabalhando o protagonismo juvenil por meio de projetos interdisciplinares.

A gestora do colégio, professora Neide da Conceição Guimarães Rocha, conta que o ensino médio integral transformou a rotina dos estudantes. “São trabalhos importantes que mostram o empenho e capacidade dos nossos alunos ao desenvolverem suas habilidades. O ensino integral tem uma colaboração muito significava porque eles têm mais tempo para conhecer as práticas, discutir com os colegas e pedir orientação do professor”, destaca.

O jovem protagonista, Gustavo de Oliveira Menezes Santos, avalia como enriquecedora sua experiência com os processos químicos na criação de corantes. “Aqui é o momento em que a gente consegue colocar em prática tudo que aprendemos nos livros. O que mais me chamou a atenção foi o quanto podemos criar, a quantidade de cores e combinações que é possível encontrar nas composições químicas, é muito interessante”, explica o estudante.

A estudante, Franciene Souza Santos, compartilha da mesma opinião do seu colega. Para ela, a prática é o momento mais empolgante das experiências químicas. “Gostei muito da etapa que envolve o tingimento. Nesse processo, pude conhecer muitas composições que não imaginaria que serviria para colorir, como os vegetais”, conta a aluna do 2° ano, afirmando que o projeto também a fez vencer a timidez.

Áreas de Conhecimento

Além da Química, a eletiva contempla mais duas áreas de conhecimento que são relevantes no processo de pigmentação e criação das cores, são as disciplinas matemática e artes. Nesse sentido, assuntos como Colorimetria, a matemática das cores, e processos criativos são trabalhados com os estudantes durante as atividades.

De acordo com a professora de Artes, Paula Gabriela Caxico de Abreu Souza, o intuito do projeto é permitir que os alunos possam trabalhar com o imaginário e a criatividade, a partir do tingimento dos tecidos. “Primeiro a gente trabalhou com a extração dos pigmentos para saber quais cores eles poderiam atingir. Em seguida, a partir destas cores, conseguimos brincar com imaginário deles: tingindo os tecidos, desenhando em papéis, utilizando o tai dai, que é a técnica de colocar o pigmento e torcer o tecido e conseguir um design diferente. Então, foi dessa forma que introduzimos a arte nesse processo”, explica a professora.

Já na matemática, a professora, Ana Paula Jasmim Santana, relata que durante as atividades os alunos desenvolvem diversas competências a partir da disciplina. ”A matemática ajudou muito na questão dos cálculos, para obter as medidas, as capacidades e volumes que eles precisavam saber, como a quantidade de tecido ou material para tingir. Eles viveram a matemática na prática. É um grupo muito empenhado, motivado e com capacidade para aprender. A gente percebe que eles têm instrução o suficiente para sair da escola e dizer que aprendeu e podem fazer mais. Isso para gente é muito importante”, celebra Ana Paula.

Cienart

Alcançando o oitavo lugar na Cienart 2018, o projeto ‘As cores da natureza: utilização de corantes naturais no tingimento de tecidos’ foi inscrito novamente no evento científico. Para a gestora do Leandro Maciel, professora Neide da Conceição, os alunos estão mais preparados. “Quando participamos pela primeira vez, não imaginávamos que seríamos selecionados, então foi um resultado muito importante chegar até lá. Garanto que eles estão mais preparados, empenhados e com uma experiência mais aprimorada”, afirma.

A Feira Científica de Sergipe (Cienart) é uma iniciativa conjunta da Associação Sergipana de Ciência (ASCi), Universidade Federal de Sergipe (UFS) e Instituto Federal de Sergipe (IFS), realizada todo mês de outubro, durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia.

O evento reúne, anualmente, cerca de 5.000 pessoas, no espaço da Universidade Federal de Sergipe. São pesquisadores, professores, estudantes da Educação Básica e das Universidades, trocando experiências e popularizando a Ciência, a Tecnologia, as Artes e a Inovação produzidas no estado.

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