Bahia
28.10.2020O clima pacato do interior da Bahia, o resgate de suas raízes, a simplicidade das pessoas, a segurança e o contato mais próximo com a natureza foram alguns dos fatores decisivos para que a professora de Sociologia, Jamile Priscila Bastos, se mudasse de Salvador para o município de Aporá, que fica a 190 km da capital. Na pequena cidade com quase 18 mil habitantes, ela leciona no Colégio Estadual Professora Áurea dos Humildes Oliveira, onde boa parte dos estudantes vivem na zona rural.
"Essa transição da capital para o interior foi motivada pela necessidade de viver em uma local mais tranquilo e acolhedor. Além disso, a rotina e a vida da cidade grande interfere muito na saúde física e mental. Por isso e também por motivos pessoais, resolvi iniciar uma vida nova no interior. Acredito que a sensibilidade, a simplicidade e o cuidado desses jovens do campo revelam o outro lado da sociedade brasileira", considera a educadora. Na escola que leciono atualmente, as gestoras, funcionários e professores construíram um ambiente de união, solidariedade, carinho e respeito. Assim, em comunidades pequenas, a escola pública contribui de fato para uma formação cidadã e humana", destaca.
Jamile sempre lecionou em colégios públicos. Sua carreira no magistério foi iniciada em 2015, no Colégio Estadual Edvaldo Brandão, localizado em Salvador. Entre 2016 e 2018, ensinou no Colégio Estadual de Monte Gordo, em Camaçari. No atual colégio, ela desenvolve o projeto “Meu diário na quarentena", que faz parte da disciplina eletiva “Cineciber: estudos socioculturais e linguagens", criada para atender ao novo Ensino Médio. O projeto visa compreender a realidade dos estudantes e aproximá-los através da produção de vídeos sobre “as vivências dos estudantes durante o isolamento social”. O mesmo foi compartilhado nos grupos de WhatsApp das turmas e alguns vídeos foram autorizados para postar nas redes sociais da escola.
A professora conta que a sua história na educação começou desde o início da sua vida escolar. "Sempre gostei de ensinar e ajudar meus colegas. Um dos meus brinquedos era um quadro pequeno de giz que eu ensinava meus primos menores a ler e a escrever, pois eu adorava brincar de escolinha. Ser professor é ter esperança. Um professor vibra com o sucesso do seu aluno, fica triste quando ele não alcança seus objetivos, mas está ali para estender as mãos, aconselhando e orientando seus educandos para que eles criem asas e voem o mais alto que puderem. Eu tenho orgulho de dizer que sou professora e faço a diferença".
Sobre a sua inspiração, ela diz que vem da base familiar. "Minha família é do distrito de Missão do Aricobé, Oeste da Bahia, município de Angical. Minhas vivências e inspirações estão diretamente relacionadas à luta de três mulheres: minha mãe Elaíne, minha tia e madrinha Miralda e minha avó Maria. Elas, mesmo diante das adversidades de uma vida sofrida, por conta da seca, da fome, da fuga para a cidade grande e da pobreza, sempre colocaram a minha educação em primeiro plano. Todo o caminho percorrido até a conclusão do nível superior - sou a primeira pessoa da família com nível superior - foi trilhado, literalmente de mãos dadas, com essas três mulheres", ressalta.
O estudante Vinicius Amorim, 15, 1º ano, que reside na zona rural, na fazenda Limpo, é só elogios para a educadora. "Jamile é uma professora sensacional e eu gosto bastante das aulas dela, pois são diferentes de todas as outras. Eu a definiria como uma profissional animada e dinâmica. As disciplinas delas, Sociologia e Cineciber, são as minhas preferidas", diz, entusiasmado.