Bahia
26.10.2020O tom suave e doce da flauta despertou em Janildes, quando ainda era
criança, o sabor intenso da arte, plantando uma semente que enraizou em
sua rotina, por meio de peças, roteiros, fotos, desenhos, poesias e
sons, como expressões de vida. A sensibilidade artística e a habilidade,
adquirida na infância e incrementada na Universidade Federal da Bahia,
no curso de Letras, acompanha Janildes Almeida até hoje, trazendo para
os estudantes do Colégio Estadual Grandes Mestres Brasileiros, no
município de Matina, informação e conteúdo, transitando por todas
facetas da arte.
“Nasci com a música ao meu redor, a arte pairava em todos cantos de
minha casa. Minha mãe me colocou para aprender música e fui alfabetizada
ao lado de uma flauta doce. Cresci e me encantei com a dança, a
literatura, o teatro e outras expressões artísticas. Por isso, a arte
faz parte de minha formação como pessoa. Neste momento de tensão, nada
mais pertinente que usá-la como ferramenta para se expressar. A arte
oferece uma variedade de instrumentos para que você possa se compreender
e se mostrar para o outro. Levei essas possibilidades para meus alunos e
os resultados foram ótimos”, avalia a professora, que está na rede
estadual há nove anos.
Com esta influência, a comunidade escolar desenvolveu diversos
projetos. Dentre outros, o MoviLitera - Movimento e Literatura. A ideia
era usar todos recursos disponíveis para explorar e vivenciar as obras
literárias que iriam cair no vestibular, com profundidade. Nas equipes,
cada grupo se responsabilizava por mostrar a obra de uma forma. Poderia
ser peça, vídeo, desenhos, pinturas, ensaios fotográficos e recitais.
Para Janildes, a linguagem artística é a linguagem do humano. “Escrever
não é engessar, escrever é voar e dançar. Você pode fazer isso de várias
formas. É se deixar sair do local e seguir para outro, é construir
pontes. Não quero que meus alunos fiquem engessados, quero que eles voem
através do saber”.
Com a suspensão das aulas presenciais, mesmo sem contar como atividades
letivas, os projetos com os estudantes foram focados na possibilidade
de fortalecer os vínculos. O objetivo era transmitir conteúdo, porém
unindo as pessoas virtualmente. As disciplinas passaram a ser
trabalhadas nas redes sociais, com podcasts, leituras poéticas, pinturas
e fotografias.
A estudante Emille Rayane, de 15 anos, estava com saudades da rotina escolar e a fórmula desenvolvida pela mestra trouxe bons resultados. “Durante a pandemia, a interação com meus colegas e professores foi limitada. Mas a professora Janildes, por meio das redes sociais, tentava sempre nos unir e mostrar que somos uma comunidade escolar, mesmo estando separados. Na quarentena, ela trouxe o projeto "Arte de dentro de casa", que consistia em enviar fotos, vídeos e textos sobre o que estávamos fazendo, pensando ou sentindo. Enviei dois poemas. Foi durante a quarentena que comecei a expressar o que sentia no papel, isso me ajudou muito. Outras pessoas puderam ver minha arte e eu a delas, houve uma conexão entre nós. Sou muito grata pelas ideias que ela propõe e pelo amor à arte que ela expressa em seu trabalho, na nossa escola”.
Reportagem: Pedro Moraes