Bahia
21.10.2020“O esporte é um transformador social”. Longe de parecer um clichê, a
frase se consolidou como um lema de vida para Carla Priscilla Luz de
Amorim Silva, ao longo do exercício do magistério. No Colégio Modelo
Luís Eduardo Magalhães, localizado no município baiano de Juazeiro, sua
cidade natal, a professora Carla valoriza o esporte como um equipamento
educacional imprescindível no processo de ensino e aprendizagem.
“Através da prática esportiva é possível desenvolver diversos valores,
como disciplina, respeito, solidariedade, cooperação e fair play
(filosofia adotada em desporto que prima pela conduta ética nos
esportes), entre outros. Além disso é uma ferramenta que realiza sonhos,
que oportuniza ao estudante o despertar pela busca por dias melhores”,
reflete.
Aos 36 anos e dez de magistério, a professora Carla Priscilla observa
com alegria o crescimento do esporte escolar na Bahia. “Tive a
oportunidade de, nos últimos seis anos, ser técnica da delegação que
representa a Bahia no Jogos Escolares da Juventude, na modalidade
Atletismo. Durante esse período, vi alunos se tornarem atletas
profissionais, presenciei sonhos sendo realizados, vi a maioria deles
viajando de avião pela primeira vez, conhecendo o mar, vendo novas
culturas, novas realidades e estruturas e tudo isso desperta nos alunos
uma vontade de fazer um mundo melhor, de ter mais opções de escolhas e
carreiras. Eu busco trabalhar o senso crítico, desenvolver um olhar
diferenciado voltado ao corpo e à mente”, relata.
Carla Priscilla foi estudante da rede privada de ensino e, com notas
excelentes, naturalmente passou pelo processo de indução e orientação da
escola, dos professores, da família e dos colegas para que buscasse
um curso que a proporcionasse um retorno financeiro maior. “Mas eu
também era uma aluna muito apaixonada pelo esporte e, por isso, criei
muitos conflitos com a minha escolha de cursar Licenciatura Plena em
Educação Física. Na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS),
tive o privilégio de conhecer e vivenciar muitas vertentes da Educação
Física e o magistério me ganhou, se apropriou de mim. Novamente, escutei
que outras possibilidades poderiam me dar um retorno financeiro maior,
mas como costumo seguir meu coração, aqui estou: no magistério”.
O seu entusiasmo pela carreira e, em especial, pelo esporte escolar
como fonte de mudanças pessoais é testemunhado por seus alunos e fãs.
Anna Luísa Ferreira, 3º ano, não poupa reconhecimento: “Pró Carla é um
dos grandes exemplos de como ser uma pessoa melhor a cada dia. Ela não é
só uma excelente professora, ela é treinadora, atleta e amiga, é uma
grande incentivadora dos sonhos dos seus alunos, ela não trata apenas
como um estudante ou como um atleta; ela abraça e reclama como uma mãe
de cada um. E é isso que a torna uma professora, uma treinadora
diferenciada. É isso que a faz ser maravilhosa e excelente no que faz”,
revela a aluna, que pratica, pela escola, futsal, luta olímpica e judô.
Rafael Matos, 18, que concluiu o Ensino Médio no Modelo e hoje é
estudante de Engenharia Civil, também é só elogios: “Carla é uma luz na
vida das pessoas, fazendo jus ao seu sobrenome. Ela põe a base teórica
em prática, educando e transformando a vida de vários jovens. Eu sou um
exemplo disso. Todos os melhores momentos da minha vida tiveram ligação
direta com essa mulher maravilhosa e eu não tenho palavras para
agradecer tudo que ela fez por mim e pelo esporte, em especial o
atletismo, que ela me fez amar”, comenta.
Jogos Estudantis da Rede Pública – A dedicação ao
Jogos Estudantis da Rede Pública (JERP), projeto da Secretaria da
Educação do Estado, permitiu à professora Carla Priscilla e aos seus
alunos provarem do gosto bom da vitória. Em 2019, a equipe de Futsal
Feminino venceu a Etapa Estadual do JERP, garantindo vaga para a Etapa
Nordeste dos Jogos Escolares da Juventude, que foi realizada em
Natal/RN. “Terminamos a competição em 5º lugar, mas muito gratas pelo
apoio que tivemos do Governo da Bahia e pela oportunidade de vivenciar
uma competição de alto nível e, com toda certeza, com o gosto de quero
mais, de buscar voos maiores”, recorda. Em fevereiro deste ano, a equipe
venceu o Campeonato Baiano Escolar de Futsal Feminino e garantiu a vaga
para representar a Bahia no Campeonato Brasileiro Escolar de Futsal,
que é realizado pela Confederação Brasileira de Desporto Escolar (CBDE).
“Mas faltando três dias para a competição, a pandemia se alastrou e
sonhos foram desfeitos, frustações diversas vieram. Mas erguemos a
cabeça novamente e, mesmo no isolamento social, buscamos manter o foco
no cuidado com o corpo. Óbvio que os treinamentos em grupo foram
suspensos e nos restaram os treinos físicos em casa. Recebia os vídeos e
realizava as possíveis correções, de forma individualizada”, conta.
“Esperamos que, em breve, possamos estar de volta às quadras,
desenvolvendo nossos treinamentos de forma intensa, para representar a
Bahia da melhor forma possível no Campeonato Brasileiro Escolar de
Futsal, que já tem uma nova data: março de 2021”.
E quais as lições que a pandemia vai deixar: “São muitas, mas as
principais têm a ver com o olhar pelo outro, o cuidar do outro e a falta
que o outro faz. Vivemos olhando para si próprio na maioria das vezes. E
a pandemia gritou que, sozinho, ninguém é nada e que as diversidades
existem e que devem ser respeitadas”.
Reportagem: Claudia Lessa