Pará
21.11.2023No Dia da Consciência Negra, celebrado nesta segunda-feira (20), o Governo do Pará, por meio da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), em uma ação inédita, garantiu a construção das duas primeiras escolas quilombolas no território paraense, uma no município de Oriximiná, na região Oeste, e outra em Salvaterra, no Arquipélago do Marajó.
Também foi anunciada a criação da Trilha Formativa para Educação Antirracista na rede pública estadual de ensino. As assinaturas ocorreram no Hangar - Centro de Convenções e Feiras da Amazônia, em Belém, em ato com a presença do governador Helder Barbalho e da vice-governadora Hana Ghassan.
“O governo do Estado inicia a construção de duas escolas estaduais dentro do quilombo, para os filhos, para os jovens das comunidades quilombolas no Pará. São as duas primeiras escolas da história do Pará. Serão duas cidades que têm fortes laços com as raízes africanas, com forte representação das comunidades quilombolas nestas duas regiões. Certo estou que estas duas primeiras escolas representam não um ponto de chegada, mas um ponto de partida no desafio de garantir ensino médio e ensino fundamental dentro do quilombo, com as peculiaridades e o respeito ao ensino que respeite suas raízes, a memória, as tradições”, destacou Helder Barbalho.
“Ter uma escola para a comunidade é muito importante, já que somos 17 comunidades quilombolas no município de Salvaterra. Esse momento é maravilhoso, já que vem reconhecer os alunos que estão lá, pois todos nós fazemos parte de uma mesma comunidade. Eu só tenho a agradecer nesse momento de muito emoção e de alegria para todos nós”, disse Jaqueline Alcântara, liderança quilombola do município de Salvaterra. O processo de construção das unidades escolares começará pelo diálogo com as comunidades, para que sejam adotadas as medidas necessárias para concretização das obras.
“Hoje é um dia muito importante, 20 de novembro. É um momento que a gente tem para refletir um pouco sobre a consciência negra. Não podemos esquecer que dentro dos pressupostos da LDB (Lei de Diretrizes e Bases) e da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), a gente deve dar o desenvolvimento integral de nossos alunos. Devemos refletir não somente hoje, mas algo que a gente possa construir de forma coletiva e colaborativa, para que as próximas gerações possam, sim, ter uma convivência melhor no espaço de harmonia, de bem-estar, e que a gente possa ter uma sociedade mais justa e igualitária”, reforçou Júlio Meireles, secretário adjunto de Educação Básica da Seduc.
Trilha Formativa - A educação antirracista na rede estadual visa combater o racismo dentro e fora do ambiente escolar, por meio de uma abordagem de ensino que valoriza a história e reforça a contribuição dos povos africanos e afro-brasileiros na construção do País. Neste sentindo, foi autorizada a criação da Trilha Formativa para a Educação Antirracista, que será ofertada pela Seduc aos seus servidores.
A iniciativa será desenvolvida em duas etapas: A primeira será alicerçada no diagnóstico e na formulação de ferramentas de aplicação personalizada à rede de educação do Pará, visando ao domínio de sua efetividade. A segunda etapa contará com a formação dos gestores da Secretaria de Educação, e dos demais servidores. Serão formados o secretário, secretários adjuntos, diretores e coordenadores que atuam no prédio-sede da Secretaria, além de dirigentes de Ensino.
Também participarão da formação os 737 diretores das unidades escolares, 2013 coordenadores pedagógicos e 17.445 professores de todo o Estado. “Ter a educação antirracista dentro da escola é importante para combater muitas ações feitas tanto dentro, como fora da escola. Muitas das vezes acontecem certas situações dentro da escola que a gente tenta resolver, mas não consegue. Tendo essas ações antifascistas no ambiente escolar vai melhorar muito a nossa educação, porque iremos aprender a ter respeito com o próximo”, disse Camile Miranda, aluna da Escola Lauro Sodré.
Antirracismo - “A Trilha Formativa da Educação Antirracista é importante para a gente poder pensar na escola como um lugar de acolhimento, de inclusão. A Trilha diz exatamente o que diz Angela Davis: não basta não ser racista; é necessário que sejamos antirracistas. A iniciativa traz exatamente esse mote para dentro da escola, que a gente consiga incluir nossos alunos, pretos e pardos, dentro do ambiente escolar, e respeitando a legislação que já existe há 20 anos. E com isso, trazer a educação antirracista para o debate e tornar isso uma culminância das ações antirracistas feitas durante todo ano letivo. É um dos motivos que a gente está trazendo a educação antirracista para o Estado do Pará”, completou Mário Augusto Almeida, assessor de Convivência Escolar da Seduc.
Mais de 200 alunos participaram da programação, entre os quais o estudante Erick Andrade, da Escola Estadual Jarbas Passarinho. Ele disse ficar feliz com as ações antirracistas, já em prática na rede estadual. “Esse tipo de iniciativa faz com que diminuam os atos de racismo que tem nas salas de aula. Já vi vários exemplos dessa violência. Eu mesmo já fui vítima, e observo que tem gente que age com naturalidade. Ter uma pessoa que explicasse que o racismo é uma coisa que dói em outras pessoas é importante para o crescimento de toda a sociedade. Fico feliz por estarmos avançando com esse discurso dentro das escolas”, frisou o aluno.
Texto: Bianca Rodrigues / Ascom Seduc