Bahia
16.10.2020A escola rural do pequeno distrito de Sete Portas, no município de
Feira de Santana, onde nasceu, foi a porta de entrada para o mundo que
Maria do Socorro Aquino sempre sonhou: o da Educação. Com uma mão no
roçado de feijão e mandioca, ajudando o pai José Aquino Irmão, e a
cabeça nos livros, Maria do Socorro realizou o sonho de ser professora
e, atualmente, é gestora do Colégio Estadual Alaor Coutinho, localizado
em Açuzinho, em Mata de São João.
A professora Socorro acredita na Educação que liberta e transforma e o
efeito disso reflete na vida dos próprios estudantes, como relata Raul
Sampaio, 23, ex-aluno do Alaor Coutinho. “Eu conheci de verdade Maria do
Socorro quando fui suspenso da escola por indisciplina e, mesmo tendo
aprontando, ela viu algo em mim e começou a me incentivar para as
atividades artísticas da escola, como as oficinas de música e vídeo.
Graças ao incentivo e à persistência dela, a nossa escola foi premiada,
inclusive fora do Estado, com nossos trabalhos de áudio e vídeo. Sou
muito grato, pois ela foi importantíssima para que eu me formasse como
um cidadão de bem e que acredita no poder da educação”, declara Raul.
Apaixonada pela leitura, Maria do Socorro recebeu da mãe, Isabel Maria
da Silva, o incentivo aos estudos e do pai agricultor, que também era
marceneiro, o apoio para “viajar” no mundo do conhecimento. “Ele
costumava me dizer que, sendo eu mulher e negra, meu caminho só seria
bem-sucedido através da educação e que haveria muitas barreiras no
caminho, mas a chave estava nos estudos”. Com o aval dos pais, foi morar
no município de Entre Rios, onde estudou da 5ª série ao 3º ano, no
Colégio Estadual Duque de Caxias. “Foi lá que meus professores, em
especial Marilene Gozzer, perceberam o meu amor pelos livros e pela
leitura e me incentivaram a buscar uma vaga na universidade”, conta
Maria do Socorro, tendo sido ela a primeira da sua família a ingressar
no Ensino Superior, tendo cursado Letras Vernáculas, pela Universidade
Estadual da Bahia (UNEB) de Alagoinhas e, posteriormente, fez o mestrado
em Estudo de Linguagens: leitura, literatura e identidades, na UNEB de
Salvador.
Antes, ainda no magistério, Maria do Socorro conta que conheceu Paulo
Freire e seus ideais, que a marcaram profundamente. “Entendi que o
acesso à educação é uma luta coletiva e me coloquei a serviço do ofício.
Acredito que a educação é o caminho para a transformação da sociedade
em um lugar de mais justiça e igualdade social. Acredito no potencial de
todos e todas e esta atitude faz diferença na aprendizagem”, ressalta
ela, no alto dos seus 27 anos de profissão, aos 42 anos de idade.
O estudante Zidane Borges Vieira, 17, 3º ano, fala emocionado sobre a
professora. “É um grande privilégio poder falar dessa gigantesca
professora. O Alaor Coutinho ganhou um extraordinário presente no
momento em que ela chegou na unidade. Além de transformar as partes
física e burocrática do colégio, ela transformou vidas de estudantes,
que hoje só têm a agradecê-la. Ela é sempre cheia de ideias, positiva,
empática e com um imenso alto astral, mostrando para nós, estudantes da
rede pública, que tudo é possível, basta nos esforçarmos”.
Lugar de referência - O elo entre a gestora e os
professores da unidade escolar foram fortalecidos neste período da
pandemia com ações realizadas junto à comunidade escolar, assim como a
escola se reafirmou como um lugar de referência do cuidado uns com os
outros e de transformação da realidade, como ressaltou Maria do Socorro.
“Toda a teoria e valores que falamos no dia a dia das aulas foram
colocados à prova e vieram à tona com solidariedade, empatia, busca de
soluções coletivas, protagonismo estudantil, diálogo com as famílias e
gestão democrática”, relata, destacando o projeto “Se puder, doe. Se
precisar, pegue!”, que tem à frente os líderes de classe. Eles se
responsabilizam pelo cadastramento das pessoas com maior vulnerabilidade
social da comunidade e fazem chegar até elas cestas básicas de
alimentos e produtos de limpeza.
Reportagem: Claudia Lessa