Bahia
05.02.2021Dos 19 projetos de iniciação científica da rede estadual finalistas na 19ª edição da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (FEBRACE), o projeto protagonizado por estudantes do
Colégio Estadual Grandes Mestres Brasileiros, no município de Matina, no Oeste baiano, é um deles. A pesquisa, desenvolvida por Aline Magalhães de Jesus, 17, 2º ano do Ensino Médio e Emilly Pereira, 16, 1º ano, aborda a ausência de escritoras negras e indígenas brasileiras nos livros didáticos de Língua Portuguesa.
Considerada uma das mais importantes do país, reunindo estudantes de todos os estados, a feira, este ano, será realizada em formato virtual, entre os dias 15 e 27 de março. A lista completa dos finalistas pode ser conferida no endereço: ( https://bit.ly/3cCZjJU)
A professora-orientadora do projeto, Janildes Almeida, conta que durante o ano passado, sem aulas presenciais e com acesso apenas aos livros didáticos recebidos, já que a biblioteca escolar estava fechada, as alunas Aline e Emilly aguçaram para o fato de que os livros didáticos trazem sempre as mesmas autoras, desde o Ensino Fundamental. "Elas perceberam que as mulheres ali presentes eram todas brancas, não havia autoras negras ou indígenas, embora elas tenham uma grande produção, só que não têm visibilidade no sistema e, por trás delas, há uma cultura folclorizada”, avalia, ressaltando que a unidade escolar vem desenvolvendo este tema desde 2016, na Educação Básica.
Esta percepção das estudantes as motivou a analisar livros didáticos de quatro escolas diferentes em Matina e chegaram à conclusão de que em todas elas o material didático não dá visibilidade às autoras negras e indígenas. A estudante Aline de Jesus fala sobre a importância da pesquisa para ela. “Este trabalho abriu meus olhos para a realidade, porque, até há pouco tempo, eu nunca havia parado para observar se os livros didáticos traziam escritoras negras e indígenas. Quando a professora Janildes me convidou para este projeto, pude perceber o quão é importante e necessário discutirmos este tema”, diz. Sobre estar na final da FEBRACE, ela revela: “É a realização de um sonho. Particularmente, achava que o nosso trabalho iria longe. Mas quando recebi a notícia de que estávamos na maior feira de Ciência do Brasil, aí eu vi que o nosso projeto já havia ganhado o mundo. E o interessante foi ver que não só eu e minha colega de projeto estamos interessadas pelo assunto, mas a FEBRACE também”.
Emilly Pereira também destaca a importância do projeto, por trazer questões como racismo e sexismo. “É muito importante, para mim, saber que nosso projeto é finalista nessa feira que tem tanta relevância. Saber que o esforço que tivemos nos levou a esta conquista é extremamente graficamente, ainda mais por sabermos que outros poderão ter acesso ao conteúdo da nossa pesquisa, aumentando o alcance dela para que mais pessoas compreendam a problemática que ela aborda. Nosso trabalho mostra que não nos conformamos com esta realidade e que abrimos os nossos olhos para enxergar o silenciamento que essas mulheres sofrem e como isso está sendo reproduzido em sala, comprometendo a nossa formação, pois é o acesso às obras dessas escritoras negras e indígenas que teremos consciência de suas vivências, lutas e narrativas e nos veremos representados nelas”, opina a estudante.