Pará
25.04.2024Para estimular o protagonismo dos estudantes e aprimorar habilidades, a Escola Estadual de Tempo Integral Visconde de Souza Franco, em Belém, desenvolve o "Clube de Música", um projeto que trabalha diversos temas e áreas utilizando os princípios da educação integral. Implementados em todas as escolas de tempo integral, os "clubes juvenis" objetivam o desenvolvimento da autonomia dos estudantes por meio de atividades que trabalham diversos temas como arte, sustentabilidade, leitura e outros.
“Uma das práticas pedagógicas presentes nas escolas de tempo integral são os clubes juvenis, que têm foco no desenvolvimento da autonomia dos estudantes. Nele, os alunos se agrupam conforme o tema de interesse - a gente já tem em andamento clube de dança, teatro, xadrez, debates, leitura, RPG, jornal da escola, clube de cinema, de sustentabilidade, de grafite e outros. Cada clube tem um presidente, um vice-presidente e os alunos participantes e, em conjunto, eles definem as atividades que serão desenvolvidas naquele semestre pelo clube. Cada clube também pode ter um professor padrinho ou madrinha que vai orientar os estudantes, mas o objetivo é que eles possam desenvolver as atividades de maneira autônoma”, explicou Gabriela Bonfim, assessora técnica do Tempo Integral da Secretaria de Estado de Educação do Pará (Seduc).
Sérgio Saraiva é o professor-padrinho do Clube de Música da Escola Visconde de Souza que ganhou o nome de "Banda Vibe", que surgiu quando o docente percebeu o comportamento dos estudantes no dia a dia. "O projeto foi uma extensão da minha prática docente. Eu sempre usei a música nas minhas aulas, como uma ferramenta que acrescentava a minha metodologia na aprendizagem dos alunos. Mas, eu não era professor de todas as turmas e acontecia que a porta da sala de aula ficava lotada de estudantes que queriam participar da aula por causa da música. Além disso, aqui na escola a gente tinha muitos estudantes com problemas de autolesão e eu percebi que até esse estudante que ficava sempre pelo canto e não queria interagir muito, participava. Foi aí que eu senti a necessidade de criar alguma coisa que pudesse abarcar um número maior de estudantes além dos momentos das minhas aulas", contou.
Hoje, o projeto de música conta com uma boa estrutura que facilita o aprendizado dos estudantes. São 10 violões acústicos e dois eletroacústicos, uma guitarra, um contrabaixo, um teclado, uma bateria eletrônica, microfones e o sistema de som com a mesa e caixas amplificadas, que funcionam na sala de música. Isso só foi possível quando a escola aderiu ao tempo integral, como explica Sérgio.
"A gente ainda não tinha toda essa estrutura que veio com o ensino de tempo integral. Com a entrada da matriz, que é da escola em tempo integral, foi possível pensar num projeto que abarcasse uma carga horária além da formação geral básica. E pudesse transversalizar as outras áreas de conhecimento e os demais estudantes. E aí, assim, surgiu o projeto que passou a se chamar, no primeiro momento, 'Caminhando e Cantando', porque era essa ideia de a gente começar a construir uma caminhada dentro da escola a partir da música. E depois, passou a se chamar 'Reflexões Musicais, Identidade e Diversidade". E com essa atualização da matriz curricular, ele continua indiretamente tendo essa identidade de refletir, para que os alunos se identifiquem enquanto sujeitos socioculturais, mas funciona hoje como Clube de Protagonismo Juvenil. Tem um clube de teatro, tem um clube de dança e tem um clube de música. Então, dentro dessa nova matriz, ele se encaixa nessa perspectiva de clube de música, que é um espaço para o aluno desenvolver os talentos que ele tem, seja o tocar, seja o cantar, seja o interagir, é um momento de socialização", afirmou.
Protagonismo Juvenil - A "Banda Vibe", que hoje conta com 29 estudantes, foi ganhando notoriedade e destaque dentro e fora da escola. Pela qualidade musical e técnica apresentadas, os estudantes recebem convites para apresentações em eventos em outras escolas e nacionais, como por exemplo, o lançamento do Programa Pé de Meia, do Ministério da Educação (MEC), em Belém. Para os estudantes que participaram da apresentação foi um momento inesquecível.
“Tive a experiência de participar de uma apresentação da Banda Vibe no Hangar, no evento do MEC, o Pé de Meia, e foi uma experiência nova para mim porque eu nunca tinha me apresentado para ninguém e foi o máximo. A gente se preparou, ensaiou e foi incrível”, relatou a estudante da 1ª série do Ensino Médio, Victória Wanzeller, que vê o Clube de Música como uma grande oportunidade.
“Estou gostando muito de participar do Clube de Música, para mim, é uma oportunidade de aprimorar o nosso talento. A gente tem a ótima participação do professor Sérgio, que ensina a gente no que precisamos. É algo muito legal, é uma forma da gente ter e conhecer mais sobre a música. Quando eu cheguei aqui na escola e soube do projeto, fiquei muito feliz porque canto e toco e aqui a gente aprende muito, recebe muito conhecimento e ao mesmo tempo consegue relaxar, fazer o que a gente gosta”, finalizou.
O estudante Lucas Fabrini, da 3ª série do Ensino Médio, participa do Clube de Música desde o começo e esteve em todas as apresentações da banda. Lucas sonha em viver profissionalmente da música e, para ele, o projeto é “excelente”. “Um dos meus maiores sonhos é ser músico profissionalmente, não que eu não seja agora, mas poder viver profissionalmente da música. A música une as pessoas, é uma coisa inexplicável. O projeto proporciona coisas novas para a gente, temos percepções novas e conseguimos abrir a nossa cabeça. Sei que se chegar em qualquer escola e perguntar sobre a Banda Vibe, eu acho que vão saber falar. Para cada um de nós, a Banda Vibe é como se fosse uma família. A gente se ajuda, ficamos felizes juntos e em momentos de tristeza, ficamos tristes juntos. Isso a gente vive dentro da banda, o que é ótimo para a gente mostrar para o pessoal que é legal participar”, disse o estudante, que é vocalista e toca violão.
O professor Sérgio destaca ainda, como funciona o trabalho de desenvolvimento do aprendizado dos estudantes dentro do Clube de Música. “Eu estou aqui como tutor para filtrar e orientar os estudantes e a gente viabiliza, dentro do ambiente escolar, aquilo que representa também essa socialização, essa prática de construção de repertório sociocultural e a questão educacional não pode se perder de vista do valor, da ética, da moral, do respeito, da solidariedade, tudo que a gente discute por meio das músicas, é isso que a gente tenta trazer. A gente sensibiliza esses estudantes para o conteúdo que está vinculado àquela canção, seja a questão da identidade cultural, da identidade social, da identidade racial, do respeito, da não discriminação, são essas as coisas que a gente trabalha no meio da música”, disse.
Segundo ele, o projeto permite viver experiências importantes para a vida escolar e pessoal dos estudantes. “A gente tem experiências muito encantadoras nesse sentido, de jovens que saíram dessa condição de se auto lesionar e foram lá ser vocalistas nas apresentações que a gente faz. No início, eles começam meio acanhados, no cantinho, depois vão se soltando e vão dar entrevista e vão cantar no Hangar, por exemplo, e a gente percebe isso que é algo incrível alcançado através do projeto, afinal, não adianta ele ter as habilidades cognitivas, acadêmicas, muito desenvolvidas, mas a questão sócio emocional e de interação serem muito limitadas, e a questão da música e da arte possibilita isso. Tenho a sensação de que a gente está no caminho certo. Já saímos de um contexto de desânimo lá atrás, porque às vezes acontece de a gente olhar e saber qual potencial o projeto tem para transformar a vida desses jovens e olhar para o lado e não ver muita perspectiva, mas hoje a gente se sente feliz por não ter desistido, por ter insistido e ver que hoje a gente tem uma estrutura que permite a fazer um belo trabalho. É um projeto que dá frutos. O Clube de Música vai marcar a vida deles”, concluiu Sérgio Saraiva.
Escolas de Tempo Integral - Para fortalecer a aprendizagem, a Seduc concretizou o aumento de 100% de vagas em escolas de tempo integral, já a partir deste ano. São 33 novas escolas no modelo de ensino integral, e mais de 17,7 mil novas vagas, totalizando 35,9 mil vagas dessa modalidade na rede pública estadual de ensino do Pará.
Texto: Fernanda Cavalcante - Ascom/Seduc