Pernambuco
29.03.2022Quem entra na Escola de Referência em Ensino Médio (EREM) Senador João Cleofas de Oliveira, em Vitória de Santo Antão, Zona da Mata pernambucana, logo se depara com as pinturas coloridas nos muros da escola. Quem idealiza e executa os desenhos são os próprios estudantes, em parceria com a gestão. A unidade de ensino, pode-se dizer pelo nível de arte dos estudantes, é um celeiro de artistas plásticos. E a descoberta desses talentos aconteceu há um ano e três meses, quando a atual gestora, Cristina Nascimento, ingressou na escola.
A primeira descoberta foi o estudante Lucas Gabriel, de 16 anos. Em 2021, em seu primeiro ano na escola, o estudante se destacou pelos desenhos que fazia no caderno. O adolescente desenha desde quando era criança, e hoje em dia é contratado para fazer pinturas em escolas e em estabelecimentos comerciais. Seu forte é o realismo, mas ele sempre abre seus horizontes para aprender novas técnicas. Com seu portfólio em mãos, Lucas mostrava com orgulho os inúmeros desenhos que à lápis nas folhas de papel, e os das paredes da escola, com a autorização da gestão.
“Hoje em dia, não tem como eu contar a minha história sem falar da arte. Eu sempre fui estimulado, por parte dos meus pais, a desenhar. Consegui fazer um curso livre de desenho que durou dois anos, e sempre venho aperfeiçoando a minha arte. Acredito que a prática leva à perfeição. E aqui, na escola, a gestora me descobriu e me desafiou a fazer algumas pinturas nos muros. Deu certo, fui muito elogiado, e não parei de pintar. Fui chamado para desenhar em outras escolas e até em outras cidades. Seria muito bom se todas as escolas dessem esse espaço para os jovens artistas”, disse.
Depois de Lucas, outros talentos foram se revelando, como a estudante Maria Vitória da Silva, de 16 anos. Incentivada pelo pai desde a infância, os desenhos de Maria Vitória são daqueles que enchem a Rede Estadual de orgulho. A estudante conta que seu estilo é próprio e que sua especialidade é desenho digital. Em um smartphone de aproximadamente cinco polegadas, a adolescente cria artes grandiosas. Mesmo com escassez de recursos e equipamentos, Maria Vitória encanta com as suas obras. Seu portfólio é digital; as suas artes estão no perfil do instagram, que conta com centenas de curtidas de admiradores.
“Eu acredito que a pintura seja uma forma de me expressar. Expressar meu amor pela arte, meus sentimentos. Minha família torce bastante para que eu siga meus sonhos e aprimore meu estilo. Por ser apaixonada por desenhos, eu quero cursar arquitetura. E a escola tem uma função importante no meu desenvolvimento, porque aqui a gestora nos encoraja, estimula a gente a pintar, a desenhar. Eu me sinto capaz hoje em dia”, contou a adolescente.
Com brilho nos olhos, durante a entrevista Cristina apresentou a turma de artistas visuais da escola, composta por cerca de 30 estudantes, especialistas em diversos estilos. A turma é tão grande, que a gestora pensa em criar uma eletiva de desenhos para incentivar os alunos a seguirem carreira e se tornarem independentes financeiramente. “Eu percebi que quando uma pintura na nossa escola era feita por um estudante, os outros se sentiam mais pertencentes a esse espaço. Tenho um caso aqui de um estudante que desenhava e parou por falta de estímulo. E ao ver a nossa gestão aberta às ideias dele e sempre estimulando, ele voltou a desenhar. Isso, pra gente, é muito gratificante. A gente sempre tenta agregar todos esses artistas nos nossos eventos. E a nossa intenção é fazer com que eles se aperfeiçoem, que se apropriem disso e que aproveitem seus talentos para se manter futuramente”, declarou, emocionada.